13 janeiro, 2005

Tsunami...

No passado dia 11 de Janeiro, foi apresentada no Telejornal da RTP1 uma reportagem cujo tema era o aproveitamento das imagens do recente Tsunami da Ásia, por parte de alguns tailandeses menos escrupulosos que tinham à venda um DVD com a respectiva colecção. De facto deixa-nos matéria para pensar, que mundo é este em que uns ganham dinheiro à custa da desgraça de outros, de uma forma tão cínica como seja vendendo as imagens dessa mesma desgraça. Evidentemente que isso só acontece porque alguém compra essas mesmas imagens, numa procura doentia de horrores reais, despojados de qualquer comum efeito especial já mais que visto em cinema. Não, isto são imagens reais, não é nenhuma montagem, logo ainda que com uma qualidade inferior, amadora, tremida, desfocada, ainda assim conseguem convencer alguém a adquiri-las, para chorar, para lamentar, para sentir, e até para assim se sentir solidário.

Embora não sendo novidade, nem espanto, ganhar a vida, ou pontualmente amealhar uns tostões despudoradamente à custa da desgraça alheia, sob as mais diversas formas, o facto é que desta vez isso foi denunciado corajosamente numa Estação de Televisão portuguesa. Foi mesmo notícia de Telejornal, o que nos pode trazer alguma réstia de esperança: afinal há quem esteja atento.

Ou será que quem supostamente denuncia e se choca com esta atitude, passa a vida, escusadamente, a fazer o mesmo? Será que não é isso que infelizmente se passa diariamente em todos os canais nacionais (uns mais que outros), desde há pelo menos 10 anos para cá? Afinal qual é o maior cinismo? O que são os telejornais nacionais, senão em boa parte, o aproveitamento de igual maneira das imagens da desgraça alheia? De uma forma mais cínica ainda, fazendo-as passar por informação… Dr José Rodrigues dos Santos (e outros), tem aí uma boa notícia para reflectir, para fazer uma introspecção, para se imaginar a si próprio numa feira de uma qualquer Tailândia vendendo imagens da desgraça.

Esta notícia constitui para mim uma peça única de cinismo sobre cinismo, com a agravante de ser veiculada sob a capa da nobre função do jornalismo, que é de facto nobre, mas que infelizmente parece também precisar de comer, tal como um ou outro Tailandês sem escrúpulos.

Já em 1997, uma canção do José Mário Branco chamada “Menina dos Olhos”, dizia sobre as televisões: “Ganham milhões a converter horrores/ em audiências de telejornal” e termina: “Talvez que p’ra manter a sanidade/ Eu chegue ao ponto de ter que cegar/ E a menina dos meus olhos há-de/ conseguir ver p’ra além do meu olhar”.

PS: Já repararam no patrocinador do Jornal da Tarde da RTP? Irónico, não?

- Uma marca de Informática. Tsunami !!!

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